A crise, o setor de moda e a criatividade como oportunidade

Para quem anda pela Oscar Freire ou alguns dos shoppings centers de São Paulo, é impossível não reparar: a crise vem deixando, na forma de lojas fechadas, suas pegadas no mundo da moda. Só na badalada ruas dos Jardins, coração da moda no Brasil, o número de lojas fechadas passa de 70. Nada mais natural para um país que vive um cenário de juros e inflação altos, além de desemprego elevado, o que joga o consumo para baixo.
Não é novidade que o varejo – que inclui obviamente o setor de moda – é um dos mercados mais afetados pela crise econômica. Em 2015, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas caíram 4,3% frente ao ano anterior. A virada do ano não trouxe novidades: em janeiro, o volume de vendas recuou 1,5% na comparação com o mês anterior, maior retração para o período desde 2005. Com o resultado, o comércio acumula queda de 5,2% em 12 meses. Para piorar, frente a janeiro de 2015, a diminuição verificada foi de 10,3%, a maior da série histórica do estudo, iniciada em 2001.


Como se houvesse notícias piores, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou ontem números ainda mais sombrios. Segundo a entidade, o volume de vendas do varejo deve recuar 8,3% este ano. Além disso, o total de trabalhadores formais do setor deve cair 3,3% até o fim do ano, o que representaria algo em torno de 253 mil demissões. Caso as previsões se confirmem, será a mais intensa queda no número de vagas desde 2004.

As estimativas são influenciadas por fatores ligados ao consumo, que tem previsão de retração. Renda do trabalhador em queda, juros ainda elevados, crédito restrito e alto patamar de endividamento das famílias não estimulam novas compras, explicou o economista da CNC, Fabio Bentes. “São fatores que devem permanecer no cenário por algum tempo e de difícil resolução no curto prazo”, disse Bentes.

Lá fora a maré também não anda tão para peixe assim. A queda da demanda chinesa, o dólar fortalecido frente a outras moedas e até mesmo os ataques terroristas em Paris transformaram 2015 em um ano complicado para marcas de luxo renomadas, como Prada, Burberry e Richemont (proprietária da Cartier). As ações da Prada, por exemplo, tiveram baixa recorde no dia 16 de dezembro do ano passado, o que levou a grife italiana a reduzir a intensidade da inauguração de lojas e a cortar custos este ano, bem como a lançar produtos mais baratos.

Oportunidade


Nem tudo parece, entretanto, dor e sofrimento no setor de moda. É possível, com criatividade e bom atendimento, escapar desse cenário recessivo. Falo com conhecimento de causa, pois quando tive meu atelier o Brasil era um país em crise constante. Por isso, no meu negócio, fazia questão de ter um atendimento personalizado com minhas clientes. Pesquisava muito as tendências internacionais para criar as roupas bonitas e inovadoras. Além disso, estava sempre em busca de bons e mais fornecedores.


Hoje, com a internet, é possível ser criativo – e falo de criatividade em tudo, no atendimento, no marketing e na área comercial – com ferramentas modernas, muitas delas gratuitas. O e-commerce está aí para provar que não é preciso ter ponto de venda para conquistar os clientes. O Facebook e o Instagram nos mostram que existem canais de comunicação gratuitos muito efetivos. O mundo virtual escancara que há um caminho para fugir da crise atual.

Outro dia li uma matéria sobre duas empresárias que criaram uma loja multimarcas de roupas femininas plus size. Estão indo muito bem, faturaram R$ 3 milhões em 2015 e preveem chegar a R$ 5 milhões este ano. Já a Renner apostou na organização das lojas, com menores filas para pagar, e agilidade no lançamento de produtos para escapar da crise. Com isso, conseguiu elevar a receita líquida no ano passado. São ideias simples, mas que podem fazer a diferença.


No cenário externo, é cada vez mais comum ver grandes grifes apostando nas vendas pela internet, principalmente de acessórios. Gigante do segmento de luxo, o grupo LVMH – dono das marcas Louis Vuitton, Fendi, Donna Karan, Givenchy, Kenzo e Marc Jacobs, entre outras – contratou um ex-executivo da Apple para comandar sua área digital, o que indica que a empresa vai investir muito forte na internet. Uma coisa é certa: há um grande caminho a se trilhar, mas o foco dessas empresas deve se concentrar na experimentação, em proporcionar uma experiência virtual de compra cativante e mais interessante.


É claro que a crise assusta, mas bons empreendedores são aqueles que demonstram resiliência e transformam os obstáculos em oportunidade. Aproveito para relembrar dicas para driblar a crise que dei em um post do início do ano:

  1. Criatividade, seja nas criações, como no atendimento ao cliente;
  2. Marketing é investimento; não é custo;
  3. O mundo digital traz muitas possibilidades: e-commerce neles!
  4. Para encantar um cliente, não basta pensar nele, e preciso pensar como ele;
  5. Você não escolhe o cliente, é ele quem o escolhe;
  6. Na hora da compra, o que conta é a percepção do cliente, e não a sua;
  7. Se a sua empresa pensa diferente do mercado, mude a sua empresa.


BIS – Beleza, Inspiração e Simplicidade!
Marilene Hannud

(*) Imagens retiradas da internet. Foto da loja é do site http://onegociodovarejo.com.br/ – não havia indicação de crédito.

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