Texto extraído de: Amanda Debolni
À
primeira vista pode parecer bem estranho dizer que a perfeição é o pior inimigo
da realização.
Mas
pense bem. Muitas vezes, procuramos tanto a perfeição que não conseguimos
realizar nada do que estávamos nos propondo.
Conheci
pessoas que tinham tanto a mostrar e a fazer, a realizar e, na eterna busca da
perfeição, nada fizeram. Passaram a vida buscando o ideal e nunca
chegaram a ponto algum – porque nunca nada estava perfeito o suficiente.
Só
que a perfeição não existe. Existe uma meta de trabalho, e vencemos,
crescemos e realizamos a cada etapa e a cada desafio. Mas o próprio
conceito de perfeição é perigoso – é como o conceito da beleza perfeita, das
capas de revistas de moda. É irreal.
Perfeição
é um conceito subjetivo. O
que é perfeito para um não é necessariamente perfeito para o outro.
Na
prática, temos que nos atrever um pouco, nos soltarmos, mostrar o que sabemos,
e principalmente, estarmos prontos para as críticas, o que nos ajuda a chegar a
um ponto de relativa perfeição, que sempre buscamos naquilo que desejamos
mostrar ao mundo, ou melhor, ao mundo que nos rodeia.
E
nessa busca vamos aprendendo cada vez mais – e assim, cada vez mais, tentando
encontrar o caminho mais próximo da perfeição dentro das nossas limitações e
dos desafios que se apresentam.
A
realização de cada um depende de raízes intrínsecas, de hábitos antigos, de
proporções adequadas.
Mas
na verdade, esperar a perfeição o tempo todo para que possamos realizar algo, é
atraso de vida. É impossível.
Reconhecer
nossas limitações é o passo mais importante na nossa eterna busca pela
realização, pelas conquistas, uma a uma. O conceito “perfeição” é um
pleno boicote a nós mesmos.
Muitas
vezes, nosso chefe, cônjuge, nossa equipe, todos estão satisfeitos com o
sucesso de um projeto ou um encontro, com os resultados obtidos.
Só
nós continuamos julgando imperfeitos os tais resultados atingidos.
E
isso não é saudável. Essa eterna busca pela perfeição é o pior inimigo da
realização.
Minha
mãe aos 90 anos fazia aula de escultura, coisa que nunca tinha feito
antes. Achei uma boa forma dela ter uma atividade criativa para que
continuasse a usar o cérebro o mais possível.
Ela
não tinha o constrangimento que é sempre uma das características de quem não
sabe, ou acha que não sabe. Mas tinha criatividade nata.
Criava
e executava esculturas belíssimas, pois não havia se prendido a censura de quem
está sempre consciente de suas limitações. Ela não se preocupava com o
que não sabia. Aprendia ao fazer.
E
fez muitas e lindas obras, que mandei fundir em bronze, e que guardarei por
toda a minha vida. São perfeitas aos meus olhos.
Vamos
lutar, sim, pela perfeição em tudo o que pudermos realizar, mas sem deixar que
a eterna busca pela ilusão da perfeição nos cegue a ponto de nunca chegarmos ao
resultado satisfatório de uma realização.
Analisemos
com cuidado, claro, mas sem obsessão, para evitarmos um sofrimento
desnecessário.
O
termo perfeição já significa “sem defeito”. Isso, sabemos, não existe em
ninguém.
Mas
existe na natureza, nas flores, nos animais, na beleza pura de uma criança.
Podemos
sim, buscar a perfeição no nosso sentimento de bondade, de compreensão, de
caridade humana.
By Amanda Delboni