Cinco dias, 39 marcas, novas tendências e muita gente bonita e estilosa. Terminou ontem à noite, com o desfile da Ellus, a 41ª edição da maior semana de moda do América Latina: São Paulo Fashion Week (SPFW). Realizado no Pavilhão da Fundação Bienal, no Parque do Ibirapuera reuniu em seu line-up as principais grifes brasileiras, que apresentaram suas coleções de Primavera/Verão.
Com o tema “Mãos que valem ouro”, essa edição marcou a estreia das grifes da A.Brand, À La Garçonne (com Alexandre Herchcovitch assinando looks femininos e masculinos), Amir Slama, Cotton Project, Murilo Lomas e Vix. A marca capixaba Amabilis, selecionada no projeto Top Five, realizado pelo IN-MOD em parceria com o Sebrae, também se apresentou, numa clara mostra de que a criatividade da moda brasileira está em todo lugar, basta apoio para incentivá-la.
Gostaria de fazer um apanhado geral de todos os desfiles, mas é tanta coisa para assistir e analisar que fica difícil. Meus comentários, portanto, ficarão focados nos desfiles que acompanhei com mais atenção. Ainda assim, vou me arriscar a fazer uma resumão do SPFW: espaço de criação e aberto a novas possibilidades, essa edição mais uma vez cumpriu com seu papel de ser uma plataforma para que diversas marcas inovem por meio de coleções criativas.
De uma forma geral, foi exatamente isso que vi nesta edição: ousadia, criação maravilhosas, belos desfiles e muito estilo. Contudo, queria compartilhar um incômodo que me acomete todas as vezes que vou a desfiles nos dias de hoje: que saudade dos tempos em que as modelos eram diferentes. Explico: elas continuam lindas e deslumbrantes, mas hoje são sempre esqueléticas, com uma cara triste. Quando tinha meu ateliê cobrava isso das minhas modelos: sorriso no rosto!!
Análise
A Iódice se inspirou no livro Happy Times, de autoria da irmã mais nova da Jackie Onassis, Lee Radziwill, para fazer sua coleção. A obra literária é praticamente toda passada na belíssima Costa Amalfitana, na Itália, e foram as cores da região – areia, azul claro, azul marinho, romã e uva – que inspiraram a estilista Simone Nunes. Ela também acrescentou o dourado, remetendo às roupas da Jackie, criando looks lindos e com muito estilo. Gostei muito da Iódice, como sempre. Foi uma coleção bem feminina, com muito jeans e o comprimento midi. As roupas me pareceram mais fluídas, prevendo um verão com visuais estilosos mesmo assim.
Outro desfile que me chamou atenção foi a da estilista mineira Glória Coelho, realizado no último dia do SPFW. Glória lançou sua primeira coleção para a G, antigo nome da sua marca, em 1974. Já nos anos 1990, com a própria grife fundada, ela criou sua segunda empresa, a Carlota Joakina, com roupas voltadas para o público jovem. Ontem, ela abusou do vinil, que apareceu nos melhores looks da coleção, criando vestidos com tiras de vinil, couro e tricô. Outra ousadia, que caiu muito bem, foram os macacões de neoprene justinhos com barras e golas de vinil. Lindos!
Na sequência, a Água de Coco apresentou uma coleção bem interessante. A dona da marca, Liana Thomaz, foi buscar na riqueza natural e cultural da floresta amazônica sua inspiração, com estampas de folhagem, vitórias régias, casas coloniais colombianas, frutas e sementes da região. Chamou atenção também a quantidade de tops no desfile: Isabeli Fontana, Aline Weber, Emanuela de Paula, Viviane Orth e Carol Ribeiro, além de Ari Westphal, Joséphine Le Tutour e Waleska Gorczevski. Outro destaque foram os brincões de pena, leves, metalizados, mas com muitas variações.
Adriana Degreas apresenta sua coleção também no segundo dia de desfiles do São Paulo Fashion Week. Conhecida por peças elegantes e que fogem do óbvio, a marca é considerada uma das principais do país na área de beachwear de luxo.
A inspiração de toda coleção nesta edição veio da Indochina, região sob domínio francês desde o fim do século 19 até os anos 40, que abrangia o Vietnã, Camboja e Laos. A aposta foi a mistura do glamour francês e do exotismo oriental, que resultou em peças lindas e originais. Marca registrada da grife, o grafismo nesse desfile apareceu, pela primeira vez nos modelos de Degreas, nos volumes sanfonados e nos plissados dobrados, que deram um efeito de babado aplicado manualmente sobre a lycra.
O desfile do talentoso Lino Villaventura, que abriu o último dia de SPFW, foi um espetáculo lindo e marcante. Mais ainda, a coleção foi apresentada em parceria com outros dois grandes nomes do mundo da moda, em uma grande produção: Miro fotografava ao vivo os looks que entravam na passarela (e eram reproduzidas em tempo real em um telão) e Paulo Borges dirigia a cena e as imagens devem virar uma exposição. A plateia ficou de frente ao estúdio montado com objetos como sofá, cadeiras, mesa de madeira e bancos, que iam sendo colocados de acordo com o que Miro indicava.
Mais uma vez utilizando a beleza e o talento de suas modelos de confiança, como Marina Dias e Talytha Pugliese, Villaventura apresentou uma coleção estonteante, com vestidos cheios de tramas, texturas e os volumes característicos do seu trabalho. Villaventura mais uma vez mostrou seu rico trabalho de moulage e construção de looks a partir de tecidos com nervuras e bordados, alguns com crina de cavalo. Vestidos lindos, que certamente estiveram entre os mais criativos e inovadores do evento. Um artesão único da alta costura brasileiro!
BIS – Beleza, Inspiração e Simplicidade!
Marilene Hannud
(*) fotos retiradas da internet e de mídias sociais das marcas citadas.